domingo, 4 de outubro de 2009

Interessante.

Como professor, preocupo-me quando observo diariamente crianças com 10 anos sem o mínimo de regras de comportamento numa sala de aula e com atitudes que revelam mesmo uma enorme falta de principios morais de igualdade e companheirismo com o outro.
A falta de tempo com os pais, o excesso dos computadores, a linguagem rídicula que adquirem entre elas, a violência excessiva, verbal e física e, por muito que custe dizer e ouvir, a falta de formação em alguns pais no que compete à educação dos filhos contribuem seriamente para que o ambiente de grupos na escola seja cada vez mais problemático.
Acredito plenamente que num espaço de tempo a médio prazo, crianças e pais vão deixar de ter tempo para si. Deixará de haver tempo para o pai ou a mãe conhecerem os problemas que o filho(a) tem na escola.
Desde o início do ano lectivo que tenho trabalhado o comportamento das turmas na sala de aula. É uma tarefa cada vez mais árdua. No final do dia, o pensamento de que ser um bom professor é uma vitória quando, ao abordar pais sobre o mau comportamento, a resposta dada e mais comum seja "É próprio da idade".

Este post vem um função deste artigo que recebi num mail por intermédio de um colega, também ele professor.
"A indisciplina tornou-se nota dominante. Hoje, quem carece de estímulo à auto-estima, não são os meninos mas sim os adultos. Um dos grandes responsáveis pelo problema da confusão que reina nas escolas é indiscutivelmente o Ministério, o qual, ao longo dos anos, se revelou incapaz de promulgar uma lei razoável para lidar com os jovens mais rebeldes. E, no entanto, para muitos destes alunos a escola é a sua única oportunidade para subir na vida. Obviamente, nem todos os alunos mal comportados o são por terem pais analfabetos, por viverem em barracas ou por ostentarem uma pele que não é branca. Há quem, pura e simplesmente, goste de aterrorizar os colegas, de humilhar os professores e de insubordinar a turma. A esquerda continua a defender que as crianças são como as flores; a direita que tudo se resolve com um par de bofetadas. Muitas das crianças que hoje frequentam a escolaridade obrigatória não são capazes de estar sentadas mais de 15 minutos; não suportam um revés sem se insubordinarem; provêm de um mundo de tal forma esquálido que o esforço que o estudo exige lhes parece inútil. O reconhecimento de que parte da violência escolar tem causas de natureza social não me leva a ser complacente com o mau comportamento nas salas de aulas. Vitimas, ou não, os alunos devem ser julgados pelos seus actos, não pelos seus traumas. Num momento em que a familia parece incapaz de desempenhar a sua função primordial, a escola assume um papel duplamente crucial. Se estas duas instituições, a escola e a familia, se resignarem ao status quo, os valores civilizacionais que considerávamos adquiridos correm o risco de desaparecer."

Maria Filomena Mónica, Confissões de uma Liberal

1 comentário:

  1. Ao passar ocasionalmente pelo blog e ler este post, é difícil não ter a tentação de o comentar, visto estar relacionado com a minha área e sendo assim, passarei à prática. Trabalho diariamente com crianças bem mais novas (dos 3 meses aos 6 anos), aliás no ano lectivo anterior estive responsável pelo berçário, e este ano dou continuidade ao grupo e devido à tenra idade como é óbvio não tenho atitudes de mau comportamento a referir, no entanto há atitudes dos pais/famílias que vão dando sinal que a sociedade está de facto a caminhar para uma mudança impressionante. Digo isto porque já no ano lectivo passado, algumas mães/pais ao falarem comigo referiam com grande satisfação que os seus filhos eram anjos em casa, pois chegavam a casa e as mães ou pais colocavam-nos em frente à Televisão e eles ali ficavam uma hora sem os incomodar (estou a falar de bebés não direi dos 3 meses, mas dos 5 aos 12 meses). Foi nessa altura muito difícil para mim e continua a ser, entender o que se passa com as famílias, com o real papel de ser pai e mãe...Não seria muito melhor para o bebé e para os próprios pais tê-lo na própria cozinha enquanto fazem o jantar, ir falando para o bebé, estar ali presente, cantar para ele... poderia alongar-me imenso como é óbvio... E penso que este exemplo tão simples está relacionado com o artigo em cima, porque vejo que hoje em dia não se dá o carinho devido aos filhos desde tão pequeninos, não se dá atenção, nem educação, a educação é deixada para nós educadores e professores... Quantas vezes enquanto educadora de crianças de 4/5 anos mães e pais já me chegaram à sala a pedir para falar e "dar uma repreensão" ao próprio filho, porque em casa fez algo (descrevem a situação) e assumem que não sabem lidar com o filho...Isto é inacreditável pois estou a falar de crianças de 4/5 anos, crianças que já dão pontapés aos pais, etc...imagino quando atingem os dez anos...e NÂO, NÃO é próprio da idade...é próprio do descontrole familiar, da falta de atenção, carinho e educação que é dada em casa...é óbvio que salvaguardo que há situações e situações e felizmente ainda há excepções!
    E penso que já divaguei demasiado... fica só esta idéia no ar...
    E já agora, parabéns pelo Blog!

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